Bebê Reborn e Saúde Mental: O Fio Entre o Lúdico e o Patológico
Escrito por Sabrina Lisboa • 20 Maio, 2025

Você já ouviu falar das bebês reborn? São bonecas hiper-realistas, feitas com tanto detalhe que, à primeira vista, parecem bebês de verdade. Algumas pessoas colecionam. Outras, cuidam. E há quem as trate como filhos: trocam fraldas, dão banho, alimentam, passeiam com elas no carrinho e até marcam consultas médicas.
Esse fenômeno tem crescido. E com ele, surge uma pergunta que inquieta tanto profissionais da saúde quanto o público em geral:
Até que ponto isso é saudável? Onde termina o lúdico e começa o patológico?
Como psicóloga clínica com mais de 20 anos de escuta terapêutica, especialmente na abordagem cognitivo-comportamental, posso afirmar: o comportamento por si só nunca é o único critério para determinar se há ou não um transtorno. O que importa é o contexto emocional, a função daquele comportamento e, principalmente, como ele afeta a vida da pessoa.
O Poder do Simbólico: Quando o Brincar é Cura
Cuidar de uma bebé reborn pode ser uma forma simbólica de expressão emocional, especialmente em mulheres que:
- Sofreram perdas gestacionais ou neonatais;
- Vivenciam infertilidade;
- Sentem um vazio emocional relacionado à maternidade não vivida;
- Buscam refúgio em uma rotina previsível e afetiva.
Nesses casos, a boneca funciona como um objeto de transição emocional, quase como um “curativo psíquico”, que traz alívio temporário para dores profundas. Isso, por si só, não é necessariamente um problema.
Aliás, a TCC reconhece que o que sentimos e pensamos molda o que fazemos e, muitas vezes, comportamentos inusitados são tentativas criativas (e até comoventes) de lidar com um sofrimento interno.
Mas E Quando Passa do Limite?
O alerta acende quando:
- A pessoa perde o juízo de realidade (acredita que a boneca é um bebê real, mesmo quando confrontada);
- O comportamento se torna compulsivo ou rígido, sem espaço para outras atividades;
- Há isolamento social, negligência de responsabilidades ou prejuízo no trabalho;
- A boneca se torna única fonte de afeto, identidade ou sentido de vida;
- A pessoa sofre ao se separar dela, sentindo ansiedade, culpa ou vazio intolerável.
Nesses casos, o que começou como alívio emocional pode estar encobrindo quadros como:
- Transtorno de luto complicado;
- Transtornos dissociativos;
- Transtorno obsessivo-compulsivo;
- Transtornos psicóticos (como delírios de maternidade);
- Depressão profunda com isolamento.
E é aqui que entra o papel da psicoterapia e psiquiatria.
O Que Essa Bebê Está Dizendo?
Toda forma de sofrimento, mesmo as mais sutis, silenciosas ou inusitadas, merece ser escutada com respeito, cuidado e intencionalidade terapêutica.
Se você ou alguém que conhece se identificou com esse tipo de comportamento, isso não é motivo de vergonha. Pelo contrário: é um sinal de que algo dentro de você está buscando forma, voz, expressão.
A TCC nos ajuda a compreender os pensamentos, crenças e emoções por trás de cada comportamento, oferecendo caminhos mais saudáveis, seguros e acolhedores para lidar com a dor, o vazio, a solidão ou os traumas.

Afinal... É Loucura?
Não. É humanidade.
Talvez seja a dor que nunca pôde ser nomeada. O luto que nunca foi reconhecido. A carência que nunca pôde ser acolhida. Ou até mesmo a criatividade tentando fazer o melhor com o que há.
Psicoterapia não é só para “quem está mal”. É para quem deseja se entender melhor. Para quem está cansado de repetir padrões sem saber o porquê. Para quem sente que, em algum lugar dentro de si, ainda há um vazio a ser cuidado com afeto e verdade.
Se Você Sentiu Que Esse Texto Falou com Você...
Talvez seja a hora de conversar com alguém que possa te ajudar a olhar para tudo isso com clareza, sem julgamento.
Se você deseja compreender melhor seus comportamentos, sentimentos e necessidades emocionais, peça ajuda profissional.
Agende sua sessão. Vamos descobrir, juntas, o que sua dor, ou sua boneca, tem tentado dizer.
Cuide da Sua Mente Como Você Merece! Aqui, no blog, você encontra ferramentas práticas baseadas em TCC e evidências científicas para transformar desafios em conquistas. Compartilhe com alguém que também pode se beneficiar desse conteúdo, porque bem-estar mental é um direito de todos. Até a próxima terça, com mais estratégias para uma vida que vale a pena ser vivida!